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Eu ainda me lembro

Teria sido mais fácil esquecer, porém as lembranças se arrastam na mente, rasgando caminhos nas minhas retinas para que eu jamais as deixe de lado. E seria mais fácil esquecer, mesmo que guardasse lágrimas em meu olhar generoso, afundando nas palavras daquela carta tão calorosa e ardente, que me acolhe e comove. E seria mais fácil esquecer, com sentimentos à flor da pele, raspando emoções como decorações em nossos sentidos e toques. Seria mais fácil esquecer da nossa dança majestosa, a distância que nos separava em um romance clichê tarde da noite, repercutindo em sons estrondosos, ainda que silenciosos o bastante para que se arraste por debaixo da minha pele. Eram sonhos se repetindo de novo e de novo, me chamando de encontro ao teu corpo, um encanto que reflete nos olhos e nos interligam; tão belamente nos abraça em uma benção divina, prometendo a felicidade que estive buscando na pureza desse vazio denso. É solitário, agora que penso sobre isso. Meus passos são leves nesse caminho d...
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Liberdade

Todos os meus desejos se esvaem como lágrimas de meus olhos, e as correntes se prendem aos braços e tornozelos mais uma vez. A liberdade que um dia me pertencera está partindo. Eu estou preso em um ciclo vicioso, mas não posso evitar te perdoar de novo. Os gritos se resumem a malabarismos oratórios. Tuas palavras ainda me atingem como se fosse a primeira vez, e eu te vejo diante de mim, naquele palco endeusado por todos, anunciando meus pecados. Temo pela minha vida, ainda preso naquelas correntes, eu temo e tremo, desejando me esconder debaixo de cobertores para me proteger dos monstros da noite. Mas talvez você esteja certo, talvez eu esteja a fadado a ser apenas isso. Somente um rato insignificante que se esconde atrás de palavras em uma tela, uma sopa do alfabeto, tentando formar significados por trás de cada letra, mas incapaz de decifrar as próprias emoções ainda que elas sejam tão óbvias. Talvez você tenha a certeza nas tuas falas, porque sempre esteve no controle no fim das con...

Ira

 Devido a palavras, nossos caminhos se dispersaram em complexos paradoxos de pensamentos; em trilhos que diferem seus destinos e jamais se cruzam. Mas você ainda tem coragem de apontar para mim e dizer que a culpa é minha. Costumávamos ser unidos, como um novelo de lã bem entrelaçado e enrolado, embaraçado demais para se soltar, presos um ao outro como peças de um quebra-cabeça colado. Éramos completos e felizes, a definição perfeita de 'família', sem segredos escondidos por trás de máscaras e mentiras. Agora eu entendo que era apenas jovem demais para perceber que nem tudo se mantém na mesmice, e que suas vontades se tornaram sedentas pela desgraça alheia, fadadas a se alimentar do caos e dos gritos que esse aglomerado de pessoas permeiam, e o sangue que nos liga se transforma em mero nada, irrelevante demais para que eu possa me importar. Pois tudo o que eu tinha é apenas isso: memórias de dias empoeirados com toda a tua falsidade e promessas de dias melhores, os lamentos das...

Continuamos

 Não foi essa criança que minha mãe criou, mas foi isso o que me tornei. Minhas mãos tremem, e o ar gélido me relembra dos erros que cometi. Teus gritos ainda ecoam na minha mente, a maneira como você me olhou, o desgosto transbordando em seu rosto através das lágrimas pesadas ainda me assombram. As químicas em minha cabeça não bastaram para controlar meus pesadelos. Você ainda continua presente em todos eles, à noite sempre me visitando com aquele sorriso cínico, como se soubesse que tudo se encerraria dessa maneira. Eu ainda me pergunto onde você foi. Me pergunto se está frio lá dentro, no escuro e na podridão da terra. Eles sofreram quando viram o que eu fiz com você?  É difícil me concentrar agora. Perambulo pelas ruas durante a noite, a fim de permanecer sendo apenas um nome na lista de procurados. Minhas mãos continuam a tremer como naquele dia fatídico. Sinto o calor do teu sangue se revirar em um frio característico, a vida escapando do teu corpo como uma alma a deixar...

Olhar rubro

O vermelho daqueles olhos era tudo o que eu poderia me lembrar. Era como sangue coagulado, a espiral que me inspirava estava refletida naquele olhar profundo e predatório, devorando partes de mim como se fosse nada; e cada mordida, por mais dolorosa que fosse, não bastava para o saciar. Às vezes eu ainda sinto aquele olhar na espreita, escondendo-se no breu que invade a noite em sua glória, o torpor ainda me enfraquece quando a sensação percorre à espinha. E amedrontado, se assim posso dizer, eu percorro o labirinto do teu corpo e me perco nas curvas, eu fico encurralado em becos estreitos e me vejo preso. Mas agora, ante o olhar rubro que tanto me perseguira em minhas noites de sono, não há medo. Emblora junto dele haja uma lâmina pressionada contra minha garganta, ainda me vejo preso nesses teus olhos insaciáveis, que ainda me estudam como um animal indefeso. Não importa o tempo que passa, eu ainda sou sua presa. E com este olhar, os dentes afundam em minha pele. A dor aguda rompe o ...

O inverno é o inferno

Se a beleza é relativa, o que garante que o sangue que faz meus olhos brilharem  — aquele que torna meu ser mais vivo  — contém uma beleza real? Mesmo que requintada, mesmo que eu a aprecie sozinho... Ela é verdadeiramente linda, como eu imagino? Posso estar cego. Eu sei  que estou cego. Não consigo entender o mundo, não o vejo da maneira que deveria. Sua essência e aquela que sinto ser sua essência são coisas diferentes, fora do meu controle. Eu não posso continuar brincando comigo. Terei que jogar a boneca fora. Devo enforcá-la, ou fazê-la ter uma overdose? Devo arremessar o brinquedo na rua ou de uma ponte? Como eu me livro dessa maldita boneca desgraçada , que todos preferem que esteja morta, pois é mais fácil esquecer a lidar com o problema? Mas a boneca nunca vai embora, não é? Eu sempre a mantenho guardada aqui por medo de precisar dela um dia. Mesmo odiando a boneca, mesmo odiando ela , mesmo eu me  odiando... ainda estou aqui. Se eu realmente quisesse, eu po...

A verdade borbulha em meu estômago

Meu estômago borbulha 'pra caralho  às vezes, como se estivesse fervendo partes de mim, aquelas com as quais consigo lidar. Ele ferve, ferve o suficiente para fazê-las desaparecer. Então eu finjo que está tudo bem quando meu estômago borbulha, porque eles  não precisam saber disso. Quero saber, é desnecessário, irrelevante, estúpido e até mesmo patético. Quem tem crise por ter olhado alguém nos olhos? Quem tem crise porque escutou, leu ou ouviu algo de errado? Quem tem crise porque não consegue falar? Isso é tão deprimente, que chega a fazer eu querer vomitar esses pedacinhos de mim. Talvez fosse melhor para todos se eles vissem quão horrendo é meu interior. O espelho já dizia isso desde o começo. Ele me diz todas as manhãs a mesma coisa, e quando cruzo meu olhar com aquela silhueta apática, sinto que vou desmoronar  — borbulhando no meu estômago até morrer, e eu derreto nas minhas tristezas, nos meus lamentos. E está tudo bem, porque ninguém precisa saber, mesmo que seja...