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Eu ainda me lembro

Teria sido mais fácil esquecer, porém as lembranças se arrastam na mente, rasgando caminhos nas minhas retinas para que eu jamais as deixe de lado. E seria mais fácil esquecer, mesmo que guardasse lágrimas em meu olhar generoso, afundando nas palavras daquela carta tão calorosa e ardente, que me acolhe e comove. E seria mais fácil esquecer, com sentimentos à flor da pele, raspando emoções como decorações em nossos sentidos e toques.

Seria mais fácil esquecer da nossa dança majestosa, a distância que nos separava em um romance clichê tarde da noite, repercutindo em sons estrondosos, ainda que silenciosos o bastante para que se arraste por debaixo da minha pele. Eram sonhos se repetindo de novo e de novo, me chamando de encontro ao teu corpo, um encanto que reflete nos olhos e nos interligam; tão belamente nos abraça em uma benção divina, prometendo a felicidade que estive buscando na pureza desse vazio denso.

É solitário, agora que penso sobre isso. Meus passos são leves nesse caminho de cascalho. As bordas são esbranquiçadas, a ausência de algo me incomoda, mas não sei definir o que eu deveria esperar ao lado da estrada. Meu peito receia os suspiros do vento. Um passo de cada vez, e eu sinto o chão desmoronar. As palavras na carta tornam a se empoeirar, acumulando os sentidos e sentimentos sutis que vagavam nos nossos corações à época, vangloriando e desenhando tua figura tão bela, que agora eu teimo a lembrar.

E teria sido mais fácil esquecer das promessas que fizemos. Das noites em claro, sonhando a dois, enquanto projetávamos um futuro juntos. Suas realizações seriam minha alegria, e minhas ações seriam as tuas. Unidos, com as mãos acolhidas no calor uma da outra, teríamos a escolha de nos apaixonar de novo – esse teu futuro me deixa louco, me faz sonhar ainda mais com aquele que irei amar. Teria sido mais fácil esquecer dos beijos não dados, os sentimentos que não exploramos e a mágoa que guardamos.

Teria sido mais fácil me esquecer de tudo, se não fosse você.

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