Pular para o conteúdo principal

Solitário é como sempre foi

É complicado se encontrar quando o espelho está tão quebrado. 

Aqueles estilhaços estão espalhados, formando pequenos fragmentos de quem eles acreditam que eu sou, e isso me assombra profundamente, pois quando mais eu olho para o maldito espelho, mais dela eu consigo encontrar. E então a ansiedade vem, a loucura me preenche com toda sua crueldade e me corta em pedaços de quem eu idealizo ser; fragmentos que não posso alcançar, uma poeira estelar que está acima da minha cabeça e cabem na palma da mão – e peço para me segurar mais perto, porque eu realmente tenho medo dessa dor se repetir e do sangue escorrer mais uma vez. Tenho medo de socar o espelho, tenho medo de gritar comigo mesmo, tenho medo da ansiedade e de suas loucuras.

Eu tenho medo de muitas coisas que não posso descrever, mas acima de tudo, tenho medo de me sentir solitário novamente. Tenho medo das consequências. Tenho medo das lágrimas que escorrem. Tenho medo da maneira como vou enxergar o espelho, e tenho medo do meu reflexo não se encaixar naquilo que eu espero todas as manhãs. 

Eu acredito na verdade, mas ainda escolho mentir para mim mesmo. Eu acredito nas palavras de conforto da minha mãe, mas eu ainda escolho escutar as palavras cruéis que saem da boca dos outros. Eu acredito que há salvação para minha alma, mas eu continuo a rasgando para puni-la de algo que não fizemos - puni-la por tudo aquilo que deixamos de fazer. 

E eu peço para me segurar mais forte, pois ainda tenho medo do que eu possa me tornar se essas vozes continuarem a falar. Me segure mais forte, porque eu não sei se realmente acredito na felicidade. Me segure mais forte, senão o espelho irá se quebrar. Me segure, antes que eu despedace esse espelho e tudo se repita.

Me segure antes que tudo se parta em pedaços tão pequenos, que a reconstrução será apenas um sonho impossível de concretizar. Me segure, pois minhas esperanças estão se esvaindo como vidro pelos meus olhos. Me segure antes que eu ouça o que ele disse novamente. Me segure senão eu irei me agredir mais uma vez.

Eu estou me sentindo solitário e tenho medo disso.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Delicado

 Delicado como uma pétala de flor. Meu amor é jovem, delicado, quebradiço. Você não é frágil, mas delicado com as palavras. Elas me tocam, por dentro e por fora, fazem cócegas, me adoram e eu as adoro.  Um suspiro, talvez dois, então você vai embora. É tão delicado, suas mãos tocam meu rosto sem estarmos perto um do outro. Delicado, eu o beijo em meus pensamentos, sinto-o me envolver em abraços acolhedores, e a tempestade vai embora. Estamos sozinhos. Juntos , mas sozinhos. Delicados são meus sorrisos quando penso em você. O coração anseia, o rosto queima, eu sinto que posso morrer. Caio sobre nuvens e flutuo por céus escuros, vagando por um vasto mundo. Eu contemplo tudo: delicado . A vida é frágil, podendo ser rude, bruta, mas ainda é bela. Então dançamos juntos, a noite toda na passarela. Suas mãos exploram minha cintura, e eu o ataco com os lábios meus.  Um suspiro, talvez dois, e repetimos outra vez. Delicado; este mapa mental, tão bagunçado, desorganizado, levou-me...
Postar um comentário
Leia mais

Eu ainda me lembro

Teria sido mais fácil esquecer, porém as lembranças se arrastam na mente, rasgando caminhos nas minhas retinas para que eu jamais as deixe de lado. E seria mais fácil esquecer, mesmo que guardasse lágrimas em meu olhar generoso, afundando nas palavras daquela carta tão calorosa e ardente, que me acolhe e comove. E seria mais fácil esquecer, com sentimentos à flor da pele, raspando emoções como decorações em nossos sentidos e toques. Seria mais fácil esquecer da nossa dança majestosa, a distância que nos separava em um romance clichê tarde da noite, repercutindo em sons estrondosos, ainda que silenciosos o bastante para que se arraste por debaixo da minha pele. Eram sonhos se repetindo de novo e de novo, me chamando de encontro ao teu corpo, um encanto que reflete nos olhos e nos interligam; tão belamente nos abraça em uma benção divina, prometendo a felicidade que estive buscando na pureza desse vazio denso. É solitário, agora que penso sobre isso. Meus passos são leves nesse caminho d...
Postar um comentário
Leia mais

Dias empoeirados

Suas lágrimas não significavam nada além de dor. Era um sofrimento contínuo resguardado no fundo do peito, soterrado por memórias tortuosas e dias apagados pelo tempo, porém não foram esquecidos. Essa leve camada de poeira indicava a visita interrompida, mas o vazio crescente não sentia falta do som atordoante dos risos tímidos e gargalhadas escandalosas.  O tempo fez o que devia ser feito. Empurrou para longe a dor, porém não agiu como anestésico. O tempo não cura, e ele pôde entender isto anos depois quando era tarde demais. Aquela camada grossa de poeira não foi suficiente para fazê-lo esquecer.
Postar um comentário
Leia mais