Me vejo preso em um labirinto, um lugar enorme e escuro que não me leva a nada. Estou perdido aqui, sozinho, e depois de muito tempo perambulando, percebi que estou perdido em mim mesmo. Parece tão idiota, mas aterrorizante também. Então, observando e mapeando esse labirinto, descobri que não há saída alguma, e que quanto mais eu procurar, menos chances terei de me encaixar me minha vida outra vez. Cada passo que dou nesse chão frio, formado a partir de memórias borradas e pisoteadas, mais distante eu fico da realidade – o que não sei dizer se é bom ou ruim. A realidade é cruel, um psicopata brincando com os peões e os trazendo diretamente para mim, fazendo deles apenas cacos de vidro e os usando contra mim. Todos que eu conheço – ou achava que conhecia – são armas miradas para mim, preparadas para matar.
Fiquei encurralado entre eles em algum momento, a realidade e os peões. Não sei quem enfrentar primeiro nem como lutar. Apenas encaro tudo isso, fecho os olhos e espero o pior vir me atacar. Pode ser uma ofensa, pode ser uma agressão física, pode ser cyber bullying, pode ser qualquer coisa. Estarei esperando o momento em que o primeiro gatilho for pressionado; esperando pela bala me acertar e penetrar minha pele feito uma agulha, e quebrar meu corpo como porcelana. Então eu estaria no chão frio de memórias pisoteadas. Deitado nele, sentindo o sangue rastejar para os pés do atirador, implorando pela misericórdia que nunca me será dada.
E com isso, reduzido a cacos cortantes e ensanguentados rodeado de armas carregadas, eu voltaria para onde tudo começo, segurando entre os dedos uma lâmina gasta de apontador enquanto repenso sobre no que pode resultar. Dessa vez, eu sei como essa história termina, e talvez eu não tenha medo de reviver o inferno que eu mesmo criei. Aquela lâmina, assim como na primeira vez, gentilmente deslizaria pela extensão do meu braço, como se deixasse leves beijos em linha reta, beijos que ficariam mais profundos e dolorosos, deixando para trás pequenas bolhas líquidas, vermelhas e viscosas, além de um rosco mais vermelho que gritaria sempre que eu movesse meu braço. Gritaria de angústia, de dor, gritaria para que eu terminasse de uma vez por todas com seu sofrimento. Mas eu sei como essa história termina.
Eu perdi o jogo. Me perdi no inferno que eu mesmo criei, e não sei como escapar desse ciclo vicioso.
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